23.8.09

Uma companhia

Quando o criador de palavras ia já dar o seu trabalho por concluído, percebeu logo que se enganara. Cada palavra mostrava sinais de solidão e, pensando bem, ele também sentia a falta de qualquer coisa...
Foi nesse momento que lhe surgiu a ideia de criar palavras novas para acompanhar as já existentes.
Mas que ideia fantástica!!!
O criador, satisfeito, ficou a vê-las a formar pares:
O gato miou para a gata;
O sabichão conferenciu com a sabichona;
O actor contracenou com a actriz;
O leão foi caçar com a leoa;
O irmão brincou com a irmã ( e irrtou-a, claro está...!)
Mas o criador, a certa altura, afligiu-se. Então não é que, seguindo o seu exemplo, algumas palavras tiveram ataques de criatividade?!
O cão largou a correr com a cadela;
O bode namorou com a cabra;
O carneiro elogiou a lã da ovelha;
O cavalheiro deu o braço à dama!
Contudo, o criador pôde serena e sentir-se, também ele, acompanhado. Ao seu lado estava agora uma criadora, que lhe deu a mão, e, juntos, saíram a criar mais palavras!



História retirada do livro
«Chamem-lhes Nomes!»
Texto Editora




13.8.09

O Beijo da Palavrinha



Protagonizada por dois irmãos, a mais recente publicação de Mia Couto para o público infanto-juvenil, aborda questões como a imagem da infância, a morte, as tradições culturais e as duras condições de vida ainda sentidas naquele país africano.

Sem passar ao lado de uma forte dimensão poética e/ou alegórica, o texto propõe uma leitura diferente da relação afectiva entre os irmãos, baseada na partilha de sonhos e na transferência de fantasias, assim como da própria morte, aqui entendida como o início de um novo ciclo, uma espécie de viagem numa nova dimensão.

As palavras possuem uma dimensão mágica e são capazes de possibilitar um encantamento que permite uma vida mais realizada e mais feliz.






Águas de Verão




"Águas de Verão" é uma curta viagem ao passado. A narradora recorda a sua infância e a vida no seio de uma família muito tradicionalista, formal. Um dos romances mais poéticos de Alice Vieira, esta narrativa mostra como as ideias de respeito e de bom comportamento podem inquinar a alegria de viver, se impostas de forma rígida e como simples convenções. Apesar disso, os vários irmãos desta família problemática acabam por descobrir o sabor da alegria e o prazer do divertimento na personagem de um saxofonista bem-humorado com quem travam conhecimento num hotel de termas.






6.8.09

Um lugar para viver

Eu sempre quis
para viver
um sítio de morar
nem que fosse
uma coisa pequenina
onde eu pudesse trabalhar
a terra, lá no meu lugar
da cidade.
Sinto-me desumana.
Dividiram tudo o que existia.
Só me deixaram o alto e o baixo,
Ainda... o céu e o chão,
Ainda me lembro quando nasci
todos de volta de mim
pegando-me ao colo.
E também quando
tinha três anos
queria muito uma carroça de burrinhos
mas não tinha dinheiro
suficiente para comprar.
Um dia tocou-me no fundo
e fiz uma grande cena:
"Que má sorte!
Só me restam na vida
o céu e os sonhos".



Patricia Susana, 9 anos E.B.1 nº55 - Olivais - Lisboa
Histórias de Longe e de Perto
concepção e selecção:
Mª Lourdes Tavares Soares & Mª Odete Tavares Tojal