21.5.08
Feira do Livro
A Feira do Livro chegou à cidade do Porto. Abre hoje as portas até ao dia 10 de Junho. Realiza-se no Pavilhão Rosa Mota e conta, mais uma vez, com um espaço dedicado às actividades infantis, orientadas pela Escola Superior de Santa Maria.
A feira estará aberta todos os dias entre as 15h30 e as 23h30, com excepção do Dia da Criança, 1 de Junho, em que a abertura será às 10h00.
5.5.08
O Limpa-palavras
Limpo palavras.
Recolho-as à noite, por todo o lado: a palavra bosque, a palavra casa, a palavra flor.
Trato delas durante o dia
enquanto sonho acordado.
A palavra solidão faz-me companhia.
*
Quase todas as palavras
precisam de ser limpas e acariciadas:
a palavra céu, a palavra nuvem, a palavra mar.
Algumas têm mesmo de ser lavadas,
é preciso raspar-lhe a sujidade dos dias
e do mau uso.
Muitas chegam doentes,
Outras simplesmente gastas estafadas,
dobradas pelo peso das coisas
que trazem às costas.
*
A palavra pedra pesa como uma pedra.
A palavra rosa espalha o perfume no ar.
A palavra árvore tem folhas, ramos altos.
Podes descansar à sombra dela.
A palavra gato espeta as unhas no tapete.
A palavra pássaro abre as asas para voar.
A palavra coração não pára de bater.
Ouve-se a palavra canção.
A palavra vento levanta os pápeis no ar
e é preciso fechá-la na arrecadação.
*
No fim de tudo, voltam os olhos para a luz
e vão para longe,
leves palavras voadores
sem nada que as prenda à terra,
outra vez nascidas pela minha mão:
a palavra estrela, a palavra ilha, a palavra pão.
*
A palavra obrigado agradece-me.
As outras não.
A palavra adeus despede-se.
As outras já lá vão, belas palavras lisas
e lavadas como seixo do rio:
a palavra ciúme, a palavra raiva, a palavra frio.
*
Vão à procura de quem as queira dizer,
de mais palavras e de novos sentidos.
Basta entenderes um braço para apanhares
a palavra barco ou a palavra amor.
*
Limpo palavras.
A palavra búzio, a palavra lua, a palavra palavra.
Recolho-as à noite, trato delas durante o dia.
A palavra fogão cozinha o meu jantar.
A palavra brisa refresca-me.
A palavra solidão faz-me companhia.
Álvaro Magalhães
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